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Avatar de Clara Pereira Fontoura

Por isso que ambição e gratidão devem andar juntas. Ambição de ter algo mais te faz ser mais. Mais disciplinado, mais foca, mais autoconfiante. Mas a gratidão mantém a felicidade, a paz enquanto você percorre o caminho. Porque você já tem coisas incríveis e está construindo o que realmente quer.

Acredito que o problema também é o pensamento que só vamos ser felizes se tivermos tal coisa. E se já formos felizes? E essa tal coisa só vim somar a felicidade já existente. No sentido, de ter ainda mais qualidades e mais o que estimar em você, aumentando assim sua autoestima?

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Avatar de O estrangeiro

Só nascemos para sofrer e para morrer. Se houver reencarnação, só nascemos para sofrer e morrer novamente. Não há nada além da dor. E o prazer? É quando a dor diminui. Assim, só há prazer quando, por exemplo, diminuímos a dor da fome. Se não houvesse fome, não haveria prazer em comer. Só há prazer quando diminuímos a dor da sede. 

Se não houvesse sede, não haveria o prazer de beber. E o prazer do repouso depende do cansaço. Por isso, todo prazer depende da dor que circunstancialmente diminui. Como poderia haver uma felicidade eterna, permanente e estável se todo prazer pressupõe a dor que ele apenas reduz? Nesse turbilhão de nossas forças vitais, nos relacionamos com o mundo pelo desejo. Mas, na lógica do desejo, sempre nos faltará algo. 

A saciedade apenas indica um novo desejo, uma nova falta. Por essas e outras, não há salvação, não há outro mundo. O mundo é este aqui, com seus desejos e suas dores. O mundo é só o mundo e nada mais. O céu é vazio, nele não há azul, não há anjos, nem deuses. A salvação é este vazio mesmo. A compreensão da ilusão. A aceitação do desespero.

- Pedro Calabrez & Clóvis de Barros

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Avatar de nefertiti🦋

o trecho que mais mecheu comigo foi oq fala sobre amarmos o que desejamos simplesmente por ainda não termos conquistado aquilo, porque isso acabou se conectando com a minha forma de amar em alguns momentos da minha vida, em que eu "amei" pessoas medíocres e que não eram compatíveis comigo, pelo simples fato de que essas pessoas eram inacessíveis, eu não tinha elas, então o desejo acabava sendo ainda maior e eu acabava confundindo isso com amor

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Avatar de O estrangeiro

esse dilema é complexo! Mas tenho uma possível resposta desse mesmo autor:

"Platão propõe o que denomina de ascese, de elevação. Ideia é que, na hora de se relacionar com as coisas do mundo, digamos que existam apreços que valem mais do que os outros. Imaginemos que passe uma mulher de glúteos impressionantes do outro lado da rua, e você diga: "Nossa, que espetáculo de mulher! Que bunda!". Você ai tem um apreço por um glúteo particular e se deixa atrair por ele. Digamos que esse apreço é digno de uma vida bastante pobre, uma vida inferior mesmo. Um apreço superior a esse seria o apreço pela beleza do corpo feminino. 

E ai já não seria mais uma bunda específica, mas sim um corpo genérico, uma ideia de corpo feminino. Mas haveria talvez um apreço superior ao da beleza genérica do corpo feminino. Seria o apreço pela beleza de qualquer coisa: do corpo feminino, da paisagem, da obra de arte, da música, ou seja, o apreço pela beleza onde ela estiver. Perceba que estamos subindo, partimos de glúteos específicos, passamos pelo corpo genérico e finalmente chegamos à beleza salpicada onde estiver, a beleza em si, que não está particularizada em uma coisa ou em um corpo específico, mas que pode estar em qualquer lugar.

 Espero que você comece a entender a solução que Platão nos propõe, pois, concordará comigo, esse ser a que me refiro agora está muito distante da mulher do outro lado da rua e muito mais próximo da sua cabeça, das suas ideias, da sua alma pensante, da sua inteligência. Quanto mais o apreço tiver por um objeto uma ideia, mais ele será indicativo de uma vida bem vivida. Quanto mais o apreço for particular, pelo físico captado pelos sentidos e pelas sensibilidades, mais próximos estaremos da animalidade, menos digna será nossa vida, mais pobre será nossa existência.

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